O dia em que morri (e ninguem deu por ele).
Aprendemos desde cedo, que nada sabemos da morte.
Que morrer e deixar os que mais gostamos numa outra realidade; enquanto nos partimos para o desconhecido. Podem ate existir livros sobre o tema, mas a verdade e que pouco nos interessa, porque falar dela e quase assunto tabu. Como que, se não falarmos, não acontece. Em vez de tentarmos saber mais sobre o desconhecido, que inevitavelmente nos espera a todos, preferimos não faze-lo, de forma totalmente consciente e medrosa. Na verdade, com medo de atrairmos o mal. Sim, porque bem no fundo de nos, sabemos que o mal atrai o mal; e que o bem, atrai o bem.
Porem, o que não percebemos, e que nos instalaram o medo da morte como forma de nos manter, na pura ignorância. E nada melhor que um homem com medo, ignorante, para ficar automaticamente controlado nos seus actos.
Percebi há pouco tempo que sou uma sortuda e muito mais inteligente do que alguma vez pensei, sobre a minha própria pessoa. E amo-me cada vez mais por isso. Perceber que escolhi esta vida para mim, sabendo que ia sair destes desafios, tão rica em conhecimento, fascina-me. Apetece-me agradecer e dar aquele meu abraço a mim mesma. E dizer a alta voz, bolas, estou tão orgulhosa de ti....Carla!
Por isso, faço-o.
Há pouco tempo, percebi que o Universo me deu um presente maravilhoso. Permitiu-me perceber o que era a morte, ainda em vida. Confesso que no inicio, ate eu, tive algumas duvidas, mas não tardou para ter encontrado as minhas certezas.
Morri quando Emigrei para a Republica da Irlanda.
Deixei para trás o meu filho aos cuidados dos meus pais.
Deixei para trás os meus pais e todos os meus amigos.
Deixei a minha casa, com tudo de material dentro.
Com uma mala de roupa, um marido e um carro, parti para o desconhecido.
Emigrei.
Morri.
Morri para todos os que ficaram em Portugal, como podia ter sido, um outro pais qualquer.
As suas vidas continuaram, como se nada tivesse acontecido.
Porque na verdade, para eles, não aconteceu.
Foi a minha vida, que acabou.
A vida que ate ai, eu conhecia.
A realidade que ate ai eu conhecia.
Escolhi emigrar. Em desespero emigrei.
Tal como um ser humano, que escolhe o suicídio.
Não para ver o que esta do lado de lá, não para morrer; mas antes para fugir da dor.
Queria mais e melhor, mas nao tinha forcas para lutar, contra o que já conhecia.
E lembro-me que quando cheguei a planear o meu próprio suicídio, os sentimentos eram os mesmos.
Queria mais e melhor, mas não tinha forcas para lutar, contra o que já conhecia.
Preferia tentar algo de novo e assim fiz.
Emigrei.
Do outro lado tinha alguém que me dizia o quanto era bom, o dinheiro.
E deste lado, agora, também digo, que sim.
Mas deste lado, percebi entretanto, que o dinheiro não e tudo.
E que depois de ter percebido isso, na pele, também, percebi, ainda a tempo, que o mais importante na vida e o equilíbrio. Em tudo.
Isto e o propósito da vida. A nossa capacidade de encontrar o equilíbrio.
Procurei por ele e estudei-o cuidadosamente. Percebi-o e conheci-o.
Fiquei alinhada com o Universo.
E exactamente por isto, percebi que aprendi a lição que era suposto aprender deste lado. Fui aprendendo outras, entretanto.
Caminhei mais um pouco, nesta escuridão, que eu própria escolhi e encontrei a Luz.
Ao longo de quase 10 anos, estive a aprender muitas coisas, que todas juntas, resultaram num novo ser humano.
Por isso, agora, quando todos já não conhecem a pessoa de há 10 anos atrás, porque na verdade ela já não existe, ja posso ''reencarnar'', ou melhor, regressar a ''casa'' para poder continuar a evoluir, enquanto ser humano.
E depois de ter explicado a morte, acabei de explicar o processo de reencarnação.
Nem a minha mãe me conhece mais; e já pouco sabe o que dizer.
Os amigos o mesmo. E ainda bem.
Vai ser mesmo um recomeçar de novo...ou quase.
Mas isso, não significa um caminho mais fácil. Apenas diferente.
A hora de partir aproxima-se, e as vezes, parece que o tempo vai voar; outras, que ainda falta tanto.
Desenganem-se, se vos dou a falsa impressão, que regresso pelos meus amigos, ou pelos familiares.
Regressarei apenas por mim, porque quero e basta.
As vezes, fazemos Skipe com os avos e com um par de amigos.
Todos os nossos familiares e amigos, se lembram de nos porque frequentamos a Igreja e o cemitério dos tempos modernos, o Facebook. Onde, também, consta a nossa foto e o nosso aniversario. Afinal vamos a esses sítios, para falarmos com os que já não estão entre nos, certo? Foi assim que me ensinaram, pelo menos.
Afinal, o Facebook e a prova viva que todos fazem questão de negar.
Todos adoram estar em contacto com o alem. Seja esse alem onde for.
Alem da nossa casa, da nossa vila ou cidade, do nosso pais, do nosso continente, da nossa realidade.
Mas a verdade, e que muito poucos tem a coragem de o admitir.
Percebi que da mesma forma que o Facebook (um programa que funciona como uma ponte social), sem conexão a internet, não funciona; tambem, eu só precisava de aprender a conectar-me ao lado de lá, para fazer de ponte.
Para isso, com humildade, pedi ajuda a alguém que sabia mais do assunto, do que eu. Alguém que hoje, eu chamo de meu professor e ele me chama de minha professora. Porque aprendi que todos somos professores e alunos de todos. Porque o que e preciso e ter a humildade de querer aprender. E não ter medo de errar, reconhecendo o erro, como parte da aprendizagem.
Sem qualquer ponta de pena de ninguém, mas com compaixão...
Um Abraço,
De mim.